Monte Barata
Em 1987 a Quercus fez uma campanha pioneira no movimento associativo ambientalista em Portugal para adquirir terrenos para a conservação da natureza na zona do Tejo internacional, designado por Monte Barata. Esta campanha teve como objetivo proteger a fauna e flora em perigo na zona do Tejo Internacional, de forma a evitar que a nossa floresta autóctone e fauna ameaçada fosse destruída pelas plantações de eucaliptos e abates ilegais. Conseguiram na altura angariar verbas para adquirir 600 ha, que ao longo dos últimos 30 anos deram origem a várias reservas que têm sido intervencionadas para potenciar a recuperação da biodiversidade. Graças a estes esforços espécies como o abutre preto e a águia-imperial Ibérica, voltaram a nidificar em Portugal, habitats prioritários como os tamujais e diversas espécies de flora ameaçada como o lírio português têm recuperado nessas áreas. Conforme podemos observar na figura abaixo, fica localizada no Parque Natural do Tejo Internacional.
Surgiu recentemente uma nova oportunidade de continuar esse trabalho alargando uma das reservas em mais 80 ha, a área que pretendem adquirir limita com outra propriedade onde a Quercus já tem 430ha. Para financiar a aquisição do terreno de 80 há a Quercus lançou uma campanha de crowdfunding, através da PPL Crowdfunding Portugal (https://ppl.com.pt/pt/causas/mais-espaco-natureza), na qual conseguiu angariar mais de 20 mil euros.
Este novo terreno irá permitir a recuperação de mais 800 metros de margens da Ribeira do Marmelal, uma ribeira com habitats prioritários de conservação como os tamujais e freixiais e com presença de espécies como o cágado de carapaça estriada e a boga portuguesa. Esta aquisição vai permitir também conservar mais 40ha de floresta de montado de sobro e 20ha de floresta de Azinhal onde habitam varias centenas de outras espécies, algumas das quais em perigo de extinção. Com esta aquisição ficará a gerir uma área com mais de 680ha, onde irá continuar a proteger os valores naturais, a fomentar o conhecimento e a proteção da biodiversidade.
A Quercus tem vindo a promover a recuperação de habitats e espécies nesta zona, promovendo ações de educação e sensibilização ambiental, turismo de natureza, ações de reflorestação e recuperação de linhas de água, um alimentador de abutres, remoção de espécies exóticas invasoras, devoluções à natureza de espécimes recuperados, entre muitas outras iniciativas. Este trabalho tem sido feito em parceira e sinergicamente com outros atores locais, moradores associações locais, municípios, empresas e autoridades públicas.
Estas áreas serão conservadas no âmbito da filosofia do projeto Rewild Europe, uma iniciativa que pretende criar mais espaços na Europa e corredores para a natureza.
Tejo Internacional
É proprietária de uma área com cerca de 600 hectares, na região do Tejo Internacional, onde desenvolve diversos projetos de conservação da Natureza e de agricultura sustentada. Através das atividades do Fundo Quercus para a Conservação da Natureza, instrumento de angariação de fundos e de gestão, a Quercus promove diversos projetos de conservação de habitats e espécies ameaçados ou em perigo de extinção.
O Projeto Tejo Internacional constituiu um marco para a associação, mas também para o movimento ambientalista Português. Foi sem dúvida um projeto em que conseguimos mobilizar toda a associação para uma área do país com um património singular.
A presença de elementos da Quercus na região remonta ao ano de 1983, ou seja, é anterior à própria criação da Associação; nesse ano um dos seus sócios fundadores iniciou a recolha de dados sobre a avifauna, monitorização esta que se mantém até à atualidade. Em 1988, a Quercus, juntamente com a sua congénere espanhola ADENEX apresentou, ao abrigo do programa europeu ACMA , o projeto "Proteção do Rio Tejo Internacional e Barragem de Alcântara", envolvendo ainda o SNPRCN (atualmente Instituto da Conservação da Natureza) em Portugal e a Junta da Extremadura em Espanha. O projeto, que decorreu entre 1990 e 1993, com várias vertentes (conservação da natureza, inventariação e estudos de flora e fauna, educação ambiental, turismo de natureza, aquisição de terrenos, etc.), visava essencialmente a conservação de ecossistemas de inquestionável valor ecológico, nomeadamente extensas manchas de matagal mediterrâneo e respetiva fauna que lhe está intrinsecamente associada. A 3 de Novembro de 1993 o projeto foi distinguido com o Galardão de Prata Ford European Conservation Awards, como corolário do reconhecimento internacional da sua importância.
Com os mesmos objetivos, mas numa vertente de Turismo de Natureza mais vincada, desenvolveu-se entre 1995 e 1998 o projeto Life Ambiente "Do Litoral Para o Interior".
A 7 de Abril de 1994, durante a Presidência Aberta de Ambiente que então teve lugar o Presidente da República faz a estadia mais longa desta digressão sobre o Ambiente no Tejo Internacional, numa visita assessorada pela Quercus.
Ainda em 1994, e para um período de 6 anos, foi apresentada uma candidatura às Medidas Agroambientais, com vista à intervenção em cerca de 50 ha de montado de azinho e olival tradicional. Entre 1998 e 1999, ao abrigo do Programa Ambiente, é executado o Projeto "Tejo Vivo" que permitiu a recuperação de infraestruturas de apoio a atividades de Turismo de Natureza. Foi construída uma estrutura de estilo rústico na aldeia do Rosmaninhal e foram recuperadas instalações na herdade do Monte Barata, propriedade da Quercus com cerca de 400 ha adquirida em 1992. Também neste espaço tivemos a decorrer entre 1993 e 1999 um projeto demonstrativo de agricultura biológica, sendo na atualidade esta herdade aproveitada para ações de conservação de habitats e espécies e atividades de sensibilização, formação e de turismo de natureza.
Em 2004 o Presidente da República faz mais uma visita ao Tejo Internacional no âmbito de uma Presidência Aberta sobre o Ambiente. Nos 11 anos de presença permanente da Quercus na região destaca-se a aquisição de cerca de 600 ha de terrenos onde se incluem 2,5 Km de frente de rio, com locais importantes para a nidificação de diversas espécies ameaçadas como a cegonha-preta ou a águia de Bonelli, a edição de diversas publicações, a construção de alimentadores e plataformas ninho para aves necrófagas, a criação de zonas sem atividade cinegética, a marcação de percursos pedestres, etc.
Mas sem dúvida o maior legado terá sido o da consciencialização da população e autarcas locais para um modelo de desenvolvimento mais sustentado, assente na importância da conservação das riquezas naturais. Também não podemos esquecer a classificação da área como Parque Natural e Zona de Proteção Especial para a avifauna que teve lugar no ano 2000 ao fim de 13 anos de campanha por parte da nossa associação.